A cidade espanhola de Montilla fica no sul da província de Córdoba, inserida na comunidade autônoma da Andaluzia. É a sede da denominación de origen de Montilla-Moriles, região demarcada que abriga a produção de vinhos principalmente da uva branca Pedro Ximénez. A produção dessa zona volta-se com predominância ao mercado interno - 83% das garrafas ficam na Espanha. Os vinhos de Montilla-Moriles são assemelhados aos - mais famosos - de Jerez, empregando-se o mesmo método de solera, em que o vinho passa por um peculiar envelhecimento de 2 anos em barris (as soleras). Em Jerez, entretanto, há uma adição artificial de certo teor alcoólico, ao passo que em Montilla todo o álcool é natural, oriundo da fermentação. Trata-se de vinhos bem alcoólicos, a propósito, mas de uma finesse irresistível. O terroir de Montilla-Moriles inclui solos calcáreos e clima "mais quente" que o de Jerez; daí a melhor adaptação da uva Pedro Ximénez, ao invés da Palomino, utilizada na região "rival" (a denominación de origen Jerez-Manzanilla de Sanlúcar de Barrameda fica na província, também andaluza, de Cádiz).
Visitei, na cidade de Montilla, a bodega Pérez Barquero, um destacado produtor, degustando - como mostra a foto - os diversos tipos de vinho, com classificação similar à de Jerez:
a) Blanco jóven: vinho frutado, para consumo rápido;
b) Fino (Gran Barquero Fino PX): o meu preferido, embora não apeteça a alguns paladares, como o da Roberta e o da Tércia; de qualquer forma, é menos seco que o seu correspondente de Jerez, com aromas salinos e muito requintado. Esse vinho se produz pelo procedimento de velo en flor (véu em flor), genuinamente um "véu" que se forma na fermentação dentro dos barris de solera, superpostos numa área totalmente protegida da oxidação; a flor do vinho é obtida nesse processo. Impressionou-me o extremo cuidado da bodega Pérez Barquero na produção; há todo um galpão protegido, com vários barris guardando o vinho do futuro. Ah, aqui são 15% de teor alcoólico. As fotos abaixo ilustram o lugar e um entremeio do método de produção:
c) Oloroso (Gran Barquero OL PX): aqui já há alguma oxidação e bem mais álcool que o anterior (19%). Vinho mais escuro e "mais doce" que o fino.
d) Amontillado (Gran Barquero AM PX): cor e aspecto parecidos aos do oroloso (e os mesmos 19% de álcool), só que um pouco "mais doce" e com um certo gosto de ferrugem. Ótimo vinho.
e) Pedro Ximénez (Gran Barquero Pedro Ximénez): este é um vinho generoso e doce, para tomar como aperitivo ou em sobremesa. Uma bebida deliciosa, com 15% de teor alcoólico. Parece-me ligeiramente menos doce e mais rústico que um Pedro Ximénez de Jerez, como o de Fernando de Castilla, que guardo na minha adega e é muito bom.
Rica experiência a de conhecer melhor esses vinhos de Montilla-Moriles, que levam em seu sabor o cuidado da tradição e a simplicidade da terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário