“O rio, deitado aos pés da
floresta, tinha finalmente adormecido. Continuei sentado ali, muito tempo, com
a certeza de que se me esforçasse, se ficasse inteiramente imóvel, desperto, se
me tocasse a alma, eu sei lá!, de certa maneira o fulgor das estrelas,
conseguiria escutar a voz de Deus. E então comecei realmente a ouvi-la, e era
rouca e chiava como uma chaleira ao lume. Esforçava-me por entender o que dizia
quando vi emergir das sombras, mesmo à minha frente, um perdigueiro magro, com
um pequeno rádio, desses de bolso, preso ao pescoço. O aparelho estava mal
sintonizado. Uma voz de homem, profunda, subterrânea, lutava com dificuldade
contra o tumulto eléctrico:
- O pior pecado é não amar – disse Deus, a voz
macia de um cantor de tango..."
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