Algum dia em algum aeroporto adquiri e li Palavras de Saramago, uma edição de Fernando Gómez Aguillera, o biógrafo espanhol de José Saramago. Trata-se da reunião de trechos de entrevistas do escritor português, organizada por temas. Guardei um entremeio sobre o amor, que agora compartilho com os meus leitores:
“Penso saber que o amor não tem
nada que ver com a idade, como acontece com qualquer outro sentimento. Quando
se fala de uma época a que se chamaria descoberta do amor, eu penso que essa é
uma maneira redutora de ver as relações entre as pessoas vivas. O que acontece
é que há toda uma história nem sempre feliz do amor que faz que seja entendido
que o amor numa certa idade seja natural, e que noutra idade extrema poderia
ser ridículo. Isso é uma ideia que ofende a disponibilidade de entrega de uma
pessoa a outra, que é em que consiste o amor.
Eu não digo isto por ter a minha
idade e a relação de amor que vivo. Aprendi que o sentimento do amor não é mais
nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida
inteira, e se acontece, há que recebê-lo. Normalmente, quem tem ideias que não
vão neste sentido, e que tendem a menosprezar o amor como fator de realização
total e pessoal, são aqueles que não tiveram o privilégio de vivê-lo, aqueles a
quem não aconteceu esse mistério.”
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