terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Trânsito Musical

Para que os leitores se apercebam e formem uma ideia do tempo médio que muitos de nós levamos em um dia de trânsito, aviso-lhes que hoje, por exemplo, deu para ouvir inteiramente o Birth of the Cool, de Miles Davis, com duração total de cerca de 37 minutos. 
Esse disco foi gravado quase dez anos antes do Kind of Blue, quer dizer, entre 1949 e 1950. A vocação precursora de Davis está também aí: como o nome do álbum sugere, forma-se o chamado cool jazz, tão fecundo e prolífico nos anos que se seguiram. O disco significa, sob outro prisma, um notável aperfeiçoamento do bebop, embora seja com frequência referido como reação a esse último estilo; reação, isso sim, a uma forma virtuosística e purista do bebop. Claro que o cool jazz difere do bebop por uma evidente questão de velocidade: o cool é uma música mais suave, mais lenta, mais leve; harmonicamente, porém, preserva as mesmas bases do bebop e é por isso que o considero um dos muitos aperfeiçoamentos que surgiram desse nicho que dominou os anos 1930. O próprio Davis, não se pode esquecer, gestou-se musicalmente no bop
A característica singular do disco pode ser identificada nas influências da música clássica, mas sobretudo na criatividade dos arranjos e na excelente e inovadora interpretação do noneto de Davis. Isso é jazz sofisticado. Destaco Gerry Mulligan (sax barítono) e o grande John Lewis (piano), notáveis arranjadores que estão na essência desse álbum, assim como Gil Evans, com seus ricos arranjos para, por exemplo, Moon dreams e Boplicity. Há também que referir os vocais de Dizzy Gillespie e Kenny Haggod, que faz uma bela interpretação em Darn that dream
Miles Davis, claro, tem o grande mérito da percepção visionária e da capacidade de agregar e integrar talentos individuais (o exemplo mais bem sucedido disso é Kind of Blue), além da interpretação sempre superior. Por essa razão, não pode ser desmerecido o crédito que se lhe dá, apesar das injustiças representadas pelo correlato esquecimento de arranjadores e intérpretes do nível de Mulligan e Lewis. Aliás, John Lewis depois formaria um excelente quinteto de cool jazz, com menos referências na história do jazz do que as merecidas.       
Finalizo oferecendo aos leitores Boplicity, um entremeio de Birth of the cool

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