The Long Goodbye (O Longo Adeus - 1953), de Raymond Chandler, é o melhor romance policial que já se escreveu. Decisivo, por certo, para firmar o norte-americano como meu autor preferido do Século XX nesse gênero; o que é muito, considerando que se trata do meu gênero maior - e não há maior tolice que tentar classificá-lo como um gênero menor. Apesar disso, O Longo Adeus, como os demais romances de Chandler, só é encontrável na nossa língua em edição de bolso, da L&PM. Uma lacuna terrível; aliás, a própria LP&M, como fez com os contos de Simenon, poderia dedicar uma edição mais decente aos romances de Chandler.
Há uma adaptação cinematográfica, muito livre, de The Long Goodbye (1973) dirigida por Robert Altman; difícil de convencer a um entusiasta da obra. Todos os romances de Chandler, a propósito, receberam versões cinematográficas. A melhor delas, para mim, é a de Murder, my sweet (1944), sob a direção de Edward Dmytryk; curiosa essa minha preferência, porque o romance adaptado (Farewell, my lovely) foi o de que menos gostei entre os de Chandler (mas todos são muito bons, que fique claro). O caso é que as adaptações dos romances de Chandler para o cinema deixaram muito a desejar, particularmente as dos meus preferidos (The Long Goodbye e The Lady in the Lake; na verdade, a deste último chega a ser ruim). Isso talvez explique o meu sentimento especial quanto ao bom film noir Murder, my sweet ("traduzido" no Brasil para Até à vista, querida). O próprio Chandler, por outro lado, foi um exímio roteirista, e assim o mostra o excelente filme - de Billy Wilder - Pacto de Sangue, como ficou conhecido no Brasil, assim vertido do original Double Indemnity (1944), baseado no romance homônimo de James M. Cain.
A foto é de Chandler e os trechos a seguir são de O Longo Adeus (edição da LP&M, tradução de Flávio Moreira da Costa):
" - Você não está enganando ninguém a não ser você mesmo, Marlowe. Sabe como é que se costuma matar tigres?
- Como saberia?
- Amarra-se um bode num pau fincado e as pessoas se escondem atrás das árvores. Costuma ser complicado para o pobre bode. Gosto de você. Não sei nem por que, mas gosto. Odeio a idéia de vê-lo representando o papel do bode. Você tentou muito fazer as coisas certas... como achava que deveriam ser.
- Gentil da sua parte - disse. - Se coloquei meu pescoço pra fora e ele for cortado, o pescoço continua sendo o meu.
- Não tente ser herói, seu bobo. Só porque alguém que nós conhecemos resolveu cair na vida, você não precisa imitá-lo.
- Convido-a para um drinque se continuar na cidade ainda por algum tempo.
- Convide-me para um drinque em Paris. Paris é adorável no outono.
- Gostaria muito. Mas me disseram que é ainda melhor na primavera. Nunca fui, não saberia dizer.
- Do jeito que você anda, nunca chegará a conhecer Paris.
- Adeus, Linda. Espero que encontre o que deseja.
- Adeus - ela disse, friamente. - Sempre encontro o que desejo. Mas quando encontro, não desejo mais."
"Dissemos adeus um ao outro. Vi o táxi desaparecer. Voltei a subir os degraus e fui até o quarto; arrumei a cama. Havia um fio de cabelo comprido e preto no travesseiro. Havia uma massa informe na boca do meu estômago.
Os franceses têm uma expressão para isso. Os desgraçados dos franceses têm uma frase para tudo e estão sempre com a razão.
Dizer adeus é morrer um pouco."
Maravilha, amigo! Adorei me lembrar desse trecho!
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