domingo, 18 de dezembro de 2011

Poe


A madrugada de sábado para domingo é um momento para surpreendentes e irrepetíveis reencontros com a obra de Poe (um autor para ser lido à noite). 


Desta vez estou às voltas com os Tales of Mistery and Imagination, em uma bonita edição da "Libros del Zorro Rojo" (Cuentos de Imaginación y Misterio) - que trouxe da minha última viagem à Espanha -, com tradução para o espanhol de Julio Cortázar e ilustrações do irlandês Harry Clarke, como a que abre esta postagem. Descobrir novas edições é uma forma de cultivar redescobertas nas grandes obras.     


Aqui vai um registro de alguns instantes desse entremeio: 
"Profundamente excitado por el vino, la inesperada interrupción me alegró en vez de sorprenderme. Salí tambaleándome y en pocos pasos llegué al vestíbulo. No había luz en aquel estrecho lugar, y sólo la pálida claridad del alba alcanzaba a abrirse paso por la ventana semicircular. Al poner el pie en el umbral distinguí la figura de un joven de mi edad, vestido con una bata de casimir blanco, cortada conforme a la nueva moda e igual a la que llevaba yo puesta. La débil luz me permitió distinguir todo eso, pero no las facciones del visitante. Al verme, vino precipitadamente a mi encuentro y, tomándome del brazo con un gesto de petulante impaciencia, murmuró en mi oído estas palabras: 
¡William Wilson!
Mi embriaguez se disipó instantáneamente."
(Do conto William Wilson). 
Lembrou-me o curta-metragem do mesmo nome - incluído numa edição chamada Histoires Extraordinaires (1968), que contém a versão cinematográfica de três contos de Poe: além de William Wilson, encontramos Metzengerstein, dirigido por Roger Vadim, e uma livre (muito livre) inspiração de Federico Fellini, chamada Toby Dammit.  Dirigido por Louis Malle, William Wilson conta com a interpretação de Brigitte Bardot e de Alain Delon, este encarnando o protagonista. O elenco talvez compense algumas afetações - e adaptações parcialmente mal-sucedidas - presentes no curta; seja como for, escuto ainda a voz de Bardot pronunciando o "William Wilson" repetido no conto.


Outro registro, agora do meu conto preferido, El Escarabajo de Oro, da mesma edição primorosamente traduzida por Cortázar: 
"¿Por qué hace tanto tiempo que no lo veo? Supongo que no habrá cometido la tontería de ofenderse por alguna pequeña brusquerie de mi parte. Pero no, es demasiado improbable. 
Desde la última vez que nos vimos he tenido sobrados motivos de inquietud. Hay algo que quiero decirle, pero no sé cómo, y ni siquiera estoy seguro de si debo decírselo."
A inquietação de William Legrand e seus impressionantes desdobramentos movimentam todo o fascínio que essa história genial exerce sobre mim a cada vez. Inspiração para uma aventura de Sherlock Holmes, personagem que ainda aparecerá muito por aqui.  
      
    

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