terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Granada e Lorca


Esta foi a casa de verano do poeta andaluz Federico Garcia Lorca, em Granada. Restaurada e ricamente caracterizada - livros, escrivanias e pinturas, além de desenhos com que Salvador Dalí presenteava o poeta -, a casa abriga hoje o Museo Garcia Lorca, preservando importantes memórias do escritor, graças a informações prestadas pela longeva irmã (que terá vivido, salvo engano, até aos 90 anos), cujo belo retrato adorna a sala de estar. O moço à esquerda da porta principal vem a ser este que vos escreve.   


Granada é uma bela cidade cortada por ruelas imprevisíveis e elegantes passeios, com uma mescla interessante (e um tanto confusa para o observador desatento) de influências árabes, judaicas e cristãs - uma característica, é verdade, de toda a Andaluzia, comunidade autônoma de que faz parte aquela cidade (e a província de mesmo nome). Apesar de o destaque ser comumente destinado à opulenta Alhambra, deixo-me por agora na referência, mais distinta, à casa de Lorca e fecho com estes versos escritos ali, de uma obra menos conhecida do poeta, o Romancero Gitano (na foto a edição fac-similada): 



SAN MIGUEL (GRANADA)


Se ven desde las barandas,
por el monte, monte, monte, monte,
mulos y sombras de mulos
cargados de girasoles.


Sus ojos en las umbrías
se empañan de inmensa noche.
En los recodos del aire,
cruje la aurora salobre.


Un cielo de mulos blancos
cierra sus ojos de azogue
dando a la quieta penumbra
un final de corazones.
Y el agua se pone fría
para que nadie la toque.
Agua loca y descubierta
por el monte, monte, monte...

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