A ocorrência deste "Entremear" compareceu-me há algum tempo, em um capítulo do livro Théorie du voyage (Teoria da viagem), do filósofo francês, assumidamente hedonista, Michel Onfray. Chama-se o capítulo, em português, "habitar o entremeio", como se lê na excelente tradução de Paulo Neves. Essa expressão "entremeio" talvez encerre significados mais ricos e distintos que a original "entre-deux", acaso reduzida a uma dimensão espacial ("espaço entre dois extremos"), embora o Onfray lhe empreste também uma transcendência temporal, que a nossa língua, de todo modo, suporta com mais eficiência ("entremeio", como se há de convir, é melhor que "entre-dois", em português como em francês; a tradução, portanto, superou o original, neste particular).
"Entremeio" é intervalo, intermitência, no espaço e/ou no tempo. Designa, para os nossos propósitos, o meio-tempo, o que está para acontecer com referência ao que já se foi. Para além desse espaço e momento da estética própria da viagem, a expressão alcança a geral atitude de viver, no sentido de cultivar experimentos e prazeres que realmente valham a pena.
Compartilhar essas experiências - com o duplo significado da referência-passado e da descoberta-futuro - é a proposta deste Blog: a vivência do entremeio. Pareceu-me mais próprio, em realce ao movimento, utilizar o verbo ("entremear") e substantivá-lo (o "entremear") para melhor expressão dessa atitude: "entremear" é mais que habitar o entremeio; é praticar e viver o meio-tempo, irrecuperável depois que se converte em algo já acontecido (restando a outra experiência da memória, claro, que também formará parte dessas reflexões e que, de resto, é necessária para a comunicação do entremear).
Pratica-se aqui a estética do desconcerto e do deslumbramento. Os temas podem ser sintetizados nisto que se chama arte (e no seu entorno, já que o território é movediço), mas vão circunstancialmente além, segundo as preferências pessoais deste Editor, para quem se dispuser a compartilhar.
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