O trio sem dúvida é uma das expressões mais sofisticadas do jazz. Parecem impensáveis os rumos e a marca característica que essa música tomaria sem aquela arte delicada em que se ouve, perfeitamente individualizado e ao mesmo tempo em rica integração, o acento de cada instrumento, de cada voz harmônica e melódica. Os grandes trios representam a mais perfeita forma jazzística, de improvisação, de simbiose musical. Isso antes e hoje. Que o diga o Bill Evans Trio, responsável por memoráveis produções, como as complete records no Village Vanguard; e também o Oscar Peterson Trio, certamente o pioneiro no gênero. Esses dois trios, por certo, formaram as mais notáveis vozes do passado, não apenas pelo talento individual de Evans e de Peterson, mas também pelo entrosamento que conseguiram realizar, na forma de piano-contra-baixo-bateria, fazendo-nos pensar que de nada mais precisa a música. No jazz contemporâneo, e como mostra da perenidade do formato, destaca-se o trio do pianista norte-americano Brad Mehldau, iniciado no final dos anos 1990 e ainda hoje em plena atividade, com Larry Grenadier (contra-baixo) e Jeff Ballard (bateria, no lugar de Jorge Rossy). Mehldau, claro, não se restringiu ao trio, mas está aqui a melhor expressão do talento clássico - inspirado em Evans e Peterson - desse pianista único em nossos dias, que, além de composições próprias, oferece interessantes interpretações de músicas dos Beatles - Blackbird e Dear Prudence, por exemplo - e do Radiohead - como Paranoid Android e Exit Music -, dentre outros.
Há quatro partes de The Art of the Trio (ponto alto da discografia do pianista), a primeira delas lançada em 1997; a melhor é a segunda, o álbum Live at the Village Vanguard, gravado no lugar que imortalizara o grupo de Evans. Mehldau também gravou com o guitarrista Pat Metheny, em um excelente quartet (vide o Metheny Mehldau Quartet, de 2007), mais um profícuo formato jazzístico. Outros bons álbuns são: Anything Goes (trio), de 2004; Day is Done (trio), de 2005; Largo, de 2002; e Highway Rider, de 2010. Os vídeos: um solo de Mehldau, My favorite things, ao vivo em Marciac; e uma performance do trio, com o ótimo Samba e Amor, de Chico Buarque (e não "Samba do Grande Amor", como erroneamente indicado na apresentação):
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