sexta-feira, 27 de abril de 2012

The Long Goodbye: Once again

Mr. Harlan Potter, sobre a Los Angeles dos anos 1950, em um dos meus trechos favoritos de The Long Goodbye (O Longo Adeus), de Raymond Chandler, que agora revisito (na foto, capa da primeira edição, de 1953): 


"- Há algo muito peculiar acerca do dinheiro - continuou -. Em grandes quantidades tende a adquirir vida própria, inclusive consciência própria. O poder do dinheiro resulta muito difícil de controlar. O ser humano tem sido sempre um animal venal. O crescimento das populações, o enorme custo das guerras, as pressões incessantes da tributação confiscatória - todas essas coisas tornam o homem mais e mais venal. O homem comum está cansado e assustado, e um homem cansado e assustado não está em condições de permitir-se ideais. Precisa comprar comida para sua família. Nesta época nossa temos visto um escandaloso declínio tanto da moral pública quanto da moral privada. De pessoas cuja vida está constantemente sujeita à falta de qualidade, não cabe esperar qualidade. Não se pode ter qualidade com produção em massa. Nós não a queremos porque dura muito. De maneira que a substituímos pelo estilo, que é uma fraude comercial destinada a produzir uma obsolescência artificial. A produção em massa não pode vender seus produtos no ano seguinte se não consegue que pareça fora de moda o que vendeu este ano. Temos as cozinhas mais brancas e os banheiros mais resplandecentes do mundo. Mas nessas tão encantadoras cozinhas brancas a dona de casa americana é incapaz de produzir uma comida aceitável, e os banheiros resplandecentes são sobretudo um receptáculo para desodorantes, laxantes, pastilhas para dormir e todos os produtos dessa fraude organizada que recebe o nome de indústria cosmética. Fazemos as melhores embalagens do mundo, senhor Marlowe. Mas o que há dentro é na maior parte só lixo".  
(Tradução de Sérgio Rebouças)


E para quem quiser conferir o original: 


"'There's a peculiar thing about money,' he went on. 'In large quantities it tends to have a life of its own, even a conscience of its own. The power of money becomes very difficult to control. Man has always been a venal animal. The growth of populations, the huge costs of wars, the incessant pressure of confiscatory taxation-all these things make him more and more venaL The average man is tired and scared, and a tired, scared man can't afford ideals. He has to buy food for his family. In our time we have seen a shocking decline in both public and private morals. You can't expect quality from people whose lives are a subjection to a lack of quality. You can't have quality with mass production. You don't want it because it lasts too long. So you substitute styling, which is a commercial swindle intended to produce artificial obsolescence. Mass production couldn't sell its goods next year unless it made what it sold this year look unfashionable a year from now. We have the whitest kitchens and the most shining bathrooms in the world. But in the lovely white kitchen the aveitage American housewife can't produce a meal fit to eat, and the lovely shining bathroom is mostly a receptacle for deodorants, laxatives, sleeping pills, and the products of that confidence racket called the cosmetic industry. We make the finest packages in the world, Mr. Marlowe. The stuff inside is mostly junk.'"          

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